top of page

Reflexão do Evangelho


10.03.2019: 1º Domingo da Quaresma

Deuteronômio 26,4-10; Salmo 90; Romanos 10,8-13; Lucas 4,1-13

QUANDO TAMBÉM NÓS DESAFIAMOS CRISTO

Jesus foi ao deserto para fazer um grande retiro, de quarenta dias, diz o Evangelho deste primeiro domingo da quaresma.

Falando em quaresma, lembremos que as celebrações cristãs, na liturgia, são provas inatacáveis da única e mesma Igreja de Cristo em todos os tempos e lugares. Claro, as celebrações foram sendo organizadas ao longo de décadas.

Por exemplo, o importante escritor Tertuliano (que viveu entre os anos 160-220) fala do jejum prescrito para antes da celebração da Páscoa (De ieiun., 2), quer dizer, antes da celebração da morte e ressurreição de Jesus.

Um outro episódio: São Policarpo, que era bispo em Esmirna, atual cidade na Turquia, foi até Roma, no ao 155, para conversar com o Papa Aniceto sobre a data da Páscoa, pois alguns países tinham datas um pouco diferentes. No ano 195, foi a vez de Santo Irineu, de Lion, ir a Roma, conversar com o Papa Vítor, sobre a data da Páscoa para as comunidades da França. Quer dizer, nenhuma cidade ou país fazia celebrações em datas diferentes daquelas de Roma.

Existe um importante documento, chamado “Didascália”, de autor desconhecido, escrito na Síria, pouco depois dos anos 200, e que fala da Semana Santa.

E para citar mais um documento, podemos lembrar o belíssimo “Peregrinação de Etéria”, que são anotações de uma peregrina espanhola, que procurou visitar os lugares bíblicos, após os anos 300. Ao falar da Quaresma, ela fala que em Jerusalém as práticas da quaresma (“eortae”) são praticamente iguais às de lá da Espanha. Ao falar das celebrações da Semana Santa em Jerusalém, também ela diz que lá faziam celebrações iguais às da Espanha, com algumas diferenças pequenas.

É bom que se diga isso para lembrar que a Igreja de Cristo, única e legítima, é a mesma hoje e a de dois mil anos atrás. Já nos inícios celebravam a Páscoa, a Semana Santa, a Quaresma, a missa, os sacramentos, etc. A liturgia é talvez o aspecto mais visível da Igreja em todos esses séculos. Não existe Igreja de Cristo sem essas celebrações que têm sua origem nos próprios apóstolos.

Voltemos ao tema do retiro de Jesus. No Evangelho há ao menos dezoito ocasiões diferentes em que Jesus, depois de alguma atividade junto ao povo, se retira ao deserto, ou à montanha, para estar a sós e rezar (cf. Lc 5,16; etc.).

No deserto, o diabo pede para Jesus fazer milagres. O diabo fez aquela provocação: “Se és Filho de Deus... muda a pedra em pão”; “atira-te daqui para baixo”; “adora-me e serás rico”.. No Calvário, o povo dirigia a Jesus um insulto semelhante: “Se és Filho de Deus, desce da Cruz!” (Mt 27,40).

Quer dizer, o diabo desafia Jesus a usar seu poder para ficar rico e famoso. O diabo sempre promete o que não pode cumprir. O diabo continua a sugerir a muitos por aí: “Se você quer ser rico, famoso, poderoso... faça milagres”. As “lojinhas” dele vivem prometendo o que nunca cumpriram. É só olhar o que está por detrás de faixas, que se veem todos os dias, em que se lê: “aqui Deus tem poder e faz milagres”; “aqui milagre é garantido”; “cura e libertação é aqui mesmo, na hora”; “poderosa campanha de curas impossíveis”.

Claro, Deus nada faz para mentirosos, presunçosos e soberbos. Nunca fez nenhum milagre fora do ambiente em que existe a humildade dos santos e santas, e onde se cultiva grande devoção à Virgem Maria.

Nossa salvação está na oração, na penitência, na caridade, na cruz de cada dia carregada por amor a Cristo. Nesta quaresma, podemos olhar para o exemplo de Santa Margarida da Escócia, que foi rainha: durante a quaresma, ela assistia cinco ou seis missas por dia. Sim, por dia.